Ainda que me conheçam provável Isolada numa sala Sábia ou desinformada Tenho mesmo é olhos de poeta Quando chego a um novo sítio Ou percebo um sorriso que ainda Não havia percebido Tenho olhos de poeta se me percebo A amar os portos e as ilhas tanto quanto O caminho livre e apavorante do mar sem fim E quando exploro montanhas íngremes Em busca de nada mais que o silêncio em mim Assim também os tenho quando desejo uma casa Com a mesma louca intensidade que as estradas E se me deparo com o amor Nascendo na entressafra Quando vejo o que nunca antes tinha visto Minha poeta se torna criança Ou, por ser criança, é que assim vê Tenho olhos de poeta Quando reparo, que de repente, Acende em mim uma luz inesperada A todo instante acontece o improvável Apenas os poetas de alma - nem sempre os de palavra – Veneram sua chegada e o recebem Com flores e beijos na entrada Quem me conhece assim, tão calada Ou falando demais inúteis coisas É porque desconsidera a alma
Ah! Como são tantos a falar Dos geminianos sem coração Que se importam, mas não tanto Esses de alma torta Que mudam de casa Mais que de sapato E começam e começam A deixar os fins para os outros Ou nas palavras rabiscadas em cadernos - Porque não há fim Tanto quanto só há fim - Nós, os obscuros Estudantes dos astros Para quem a vida é uma teia de mistérios Da qual só sabemos existir Pela consciência e nada mais Pois nada nos obriga A ter teorias sobre as coisas Nós, os de sangue insular Que sentem apertar ao peito Os maquinismos Os paquetes Os marinheiros Os que constroem estradas No mar sem fim visto das esplanadas E nos telhados de Lisboa Ou de uma terra estrangeira A minha, mais que a tua E no sentir tudo de todas as maneiras Ao íntimo, o gelo do nosso coração É uma casca fina De quem sente fingindo E finge que sente Gostamos mesmo é do drama Como o meu em derramar lágrimas À tua cômoda Que graça tem a realidade Da gente que segue os protocolos